24/06/2025

“Comunicação é uma ferramenta de resistência”: encontro de formação reúne jovens indígenas de Rondônia

Com o tema “A Comunicação a Serviço da Proteção dos Territórios Indígenas e do Bem Viver”, o encontro reuniu mais de vinte jovens entre os dias 20 e 22 de junho de 2025, em Porto Velho (RO)

Encontro de Formação de Jovens Indígenas sobre Comunicação, realizado em Porto Velho (RO). Foto: Cimi Regional Rondônia

Encontro de Formação de Jovens Indígenas sobre Comunicação, realizado em Porto Velho (RO). Foto: Cimi Regional Rondônia

Por Assessoria de Comunicação do Cimi

Com o tema “A Comunicação a Serviço da Proteção dos Territórios Indígenas e do Bem Viver”, mais de vinte jovens indígenas se reuniram na Casa de Formação Irmãs Catequistas Franciscanas, localizada em Porto Velho (RO), para o Encontro de Formação de Jovens Indígenas sobre comunicação, realizado entre os dias 20 a 22 de junho.

Ao longo dos três dias buscou-se refletir sobre que é Terra, território e o que significa o Bem Viver para os povos indígenas a partir de suas vivências, culturas, trabalhos em grupo e oficinas práticas. Além disso, a importância e o papel da comunicação na prática diária das comunidades indígenas. O encontro contou com a contribuição das equipes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Rondônia.

“Ao longo dos três dias buscou-se refletir sobre que é Terra, território e o que significa o Bem Viver para os povos indígenas a partir de suas vivências”

Ao final do encontro os participantes tornaram publica uma carta onde listam compreender a Terra como mãe, vida farmácia e o sustento de todos os seres vivos. O território como algo sagrado, onde a memória viva de seus ancestrais, suas culturas, corpos e espíritos se reconhecem e florescem. E o Bem Viver não é apenas um conceito, mas sim como uma prática ancestral de viver em harmonia com a natureza, com os outros e consigo mesmo. É caminhar com os ensinamentos dos mais velhos e com os pés firmes sobre a terra. Ao mesmo tem listam compreender a “urgência da luta contra o marco temporal e os retrocessos legais que ameaçam nossa existência”.

“A arte, a comunicação e a tecnologia são aliadas quando colocadas a serviço da nossa causa e do nosso povo”

No documento os jovens indígenas também listam os compromissos assumidos para além do encontro. E reafirmam o território como base de suas existências. Sem território, não há cultura, não há saúde, não há identidade. A juventude indígena é força viva de continuidade. A arte, a comunicação e a tecnologia são aliadas quando colocadas a serviço da nossa causa e do nosso povo.

“Território é Vida. Comunicação é Resistência. Bem Viver é Direito”, destaca a carta final do Encontro de Formação dos Jovens Indígenas.

Leia a carta na íntegra:

CARTA FINAL DO ENCONTRO DE FORMAÇÃO DE JOVENS INDÍGENAS

Nós, jovens indígenas participantes do Encontro de Formação em Comunicação, provenientes de diversos povos originários da região de Rondônia, reunidos entre os dias 20 e 22 de junho de 2025, com o tema: “A Comunicação a Serviço da Proteção dos Territórios Indígenas e do Bem Viver”, reunidos na Casa de Formação Irmãs Catequistas Franciscanas – Porto Velho/RO, reafirmamos nossa identidade, resistência e compromisso com a defesa dos nossos territórios, culturas, línguas, espiritualidades e modos próprios de viver.

Durante esses dias de formação, refletimos profundamente sobre o que é terra, o que é território e o que significa o Bem Viver para os nossos povos. A partir das nossas vivências, culturas, trabalhos em grupo e oficinas práticas, compreendemos que:

  • A Terra é mãe, é vida, é farmácia, é o sustento de todos os seres vivos;
  • O Território é sagrado, é a memória viva dos nossos ancestrais, é onde nossa cultura respira, onde nossos corpos e espíritos se reconhecem e florescem;
  • O Bem Viver não é apenas um conceito, é uma prática ancestral de viver em harmonia com a natureza, com os outros e consigo mesmo. É caminhar com os ensinamentos dos mais velhos e com os pés firmes sobre a terra.

A comunicação feita de forma consciente, coletiva e comprometida, é uma ferramenta de resistência, denúncia, valorização cultural e mobilização. Aprendemos a produzir conteúdos audiovisuais com ética e cuidado, a usar o GPS como instrumentos de monitoramento e proteção dos territórios, e refletimos sobre os riscos da exposição nas redes sociais. Conhecemos também a importância das Notas Públicas (de repúdio, esclarecimento, apoio e posicionamento) como instrumentos políticos e jurídicos na defesa dos nossos direitos.

Fomos fortalecidos pelo estudo da legislação indígena, especialmente os artigos 231 e 232 da Constituição Federal de 1988, que reconhecem os direitos originários dos povos indígenas às suas terras e à sua forma própria de viver. Compreendemos a urgência da luta contra o marco temporal e os retrocessos legais que ameaçam nossa existência.

Reafirmamos que:

  • O território é base da nossa existência. Sem território, não há cultura, não há saúde, não há identidade;
  • A juventude indígena é força viva de continuidade. Somos filhos e filhas da resistência dos nossos anciãos e temos o dever de honrar sua memória e suas lutas;
  • A arte, a comunicação e a tecnologia são aliadas quando colocadas a serviço da nossa causa e do nosso povo.

Somos muitos, somos diversos, e temos direito de existir sem sermos ameaçados, silenciados ou apagados.

Nos comprometemos a:

  • Fortalecer a comunicação comunitária em nossos territórios;
  • Denunciar as violências e invasões que afetam nossas comunidades;
  • Registrar e compartilhar nossas histórias, nossas lutas e nossas conquistas;
  • Apoiar uns aos outros, nos territórios e nas cidades, organizando-nos de forma coletiva;
  • Incentivar a juventude a se engajar, a aprender com os mais velhos e a valorizar sua origem;
  • Lutar pela demarcação de nossos territórios;
  • Proteger a memória dos nossos povos e garantir que as futuras gerações possam continuar vivendo o Bem Viver.

Seguiremos caminhando com coragem, sabedoria e amor à nossa terra. Não estamos sozinhos: somos muitos, somos fortes, somos raízes que brotam e crescem juntas.

Território é Vida. Comunicação é Resistência. Bem Viver é Direito!


Porto Velho, 22 de junho de 2025.

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